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Entrevista: Entre a canção e a poesia

Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz trabalham com letras consistentes e arranjos versáteis no projeto Música de Ruiz
Reportagem LUANA DOS SANTOS
Edição LUIZA BARRETO
DIVULGAÇÃO

Téo Ruiz e Estrela Leminski experimentam buscando a sonoridade poética nas canções
Os músicos se encontraram em 2001 no Festival de Inverno da UFPR, e depois fizeram pós-graduação da FAP em Música Popular Brasileira. Desse estudo surgiram o CD Música de Ruiz e o livro Contra-Indústria, que analisa o cenário da produção independente. O projeto foi realizado com verba obtida através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Em 2002, os músicos formaram o grupo Casca Nós, que em 2006 lançou o disco Tudo tem Recheio. O mais recente trabalho da dupla é disco São Sons que foi lançado no último ano.

Composições próprias e parcerias com diversos artistas preenchem o trabalho da dupla. Foram gravadas músicas de Paulo Leminski, pai de Estrela, e já fizeram parcerias com vários artistas, como Alice Ruiz, mãe da artista, Makely Ka, Gláucio Giordanni e Renato Negrão. As participações especiais ficam por conta de Ná Ozzetti, Rubi, Natalia Mallo, Anelis Assumpção, Miriam Maria, Carlos Careqa e André Abujamra.

O trabalho da dupla envolve uma grande diversidade de ritmos, o que mostra a versatilidade da banda. Vale tudo para buscar e manter uma sonoridade poética nas canções, e até mesmo recorrer a arranjos eletrônicos e ao uso de instrumentos inusitados, como o metalofone. A mensagem é o fio condutor, portanto deve ser clara e compreensível.

Téo Ruiz e Estrela Leminski

Téo Ruiz e Estrela Leminski experimentam buscando a sonoridade poética nas canções

O Jornal Comunicação conversou com Téo Ruiz para saber mais sobre a jornada do grupo.

Jornal Comunicação: Como é a aceitação do público curitibano à música de vocês?

Téo Ruiz: O público está carente de coisas positivas. As pessoas procuram sensibilidade, portanto, quando nos apresentamos, damos ênfase na mensagem. Com isso temos um feedback positivo. A poesia é uma das ferramentas que usamos para transformar a música em canção. O tempo da canção é curto, então a mensagem precisa ser clara e direta.

Comunicação: No ano passado, vocês se apresentaram na Espanha. Como foi a experiência de tocar lá?

Téo: Nós já estávamos morando lá há um tempo para fazer mestrado. Foi muito bom tocar nesse país. Fizemos outra apresentação na Argentina e quando tocamos fora, temos a percepção da música brasileira: lá fora temos um espaço cativo. Mesmo com a dificuldade da língua, a canção passa a sua mensagem.

Comunicação: O primeiro disco e o livro foram financiados com repasses da Lei Rouanet. Tem uma maior cobrança e aceitação do público?

Téo: As leis de incentivo são um mecanismo de fomento da cultura. Uma alternativa para os artistas mostrarem seus trabalhos, mas não deve ser o único. O artista deve ter a consciência de que é dinheiro público e, por isso, deve haver um bom uso do dinheiro. Nosso disco, por exemplo, tinha um preço menor. Distribuímos o livro em bibliotecas nas cidades onde passamos também. É uma espécie de contrapartida por estarmos utilizando esses recursos, além das que sempre são obrigatórias.

Comunicação: Quais são as dificuldades que foram e são enfrentadas?

Téo: Uma grande dificuldade é a da distribuição do disco. Um novo álbum abre portas e nos possibilita fazer vários shows, portanto vendemos o disco após as apresentações. O último álbum que lançamos teve uma melhor distribuição apenas por causa da gravadora Tratore, mas ainda é necessário pensar em formar alternativas para a distribuição dos álbuns, seja pela internet ou outros mecanismos. Nesse momento estamos na ponte aérea Curitiba-São Paulo para tentar expandir a fronteira da música curitibana e fazer divulgação do nosso trabalho.

Comunicação: Como você vê o cenário atual da música curitibana?

Téo: É impar, muito característico. Quando começamos, há dez anos atrás, não havia um cenário para as bandas novas e elas acabavam sem espaço. Havia bandas antigas já consolidadas, como o Maxixe Machine, e os grupos que surgiam ainda estavam lutando por um espaço, porém agora o cenário é muito diversificado, tem muita gente boa na cidade. A dificuldade agora é mostrar que Curitiba tem uma cena musical.

Na cidade, os artistas enfrentam a resistência do povo e os lugares onde tocar são poucos. Os curitibanos tem que procurar conhecer mais a música curitibana, pois, infelizmente, ainda não temos uma vitrine local. Por outro lado, isso faz com que a “exportação” da música feita em Curitiba seja mais fácil, portanto nós e outros músicos dessa nova gerações trabalhamos nessas duas frentes para expandir a música curitibana.

Publicado originalmente aqui: www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/10815

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