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Um tributo que fala da cena local

Destaques paranaenses participam de coletânea em homenagem ao Los Hermanos e revelam pontos em comum com a banda carioca

Toda a geração de artistas que faz música autoral consistente na cena local hoje já atua com certo conforto no mercado que vem se desenhando desde o início dos anos 2000: indústria fonográfica menor, facilidade para gravar e divulgar trabalhos independentes, maior liberdade artística, fãs pulverizados em nichos. O cenário não parou de mudar, mas uma das bandas brasileiras mais emblemáticas dessa transição foi a Los Hermanos, que comemora 15 anos em 2012 com uma turnê que passa por Curitiba, no festival de música Lupaluna (dias 18 e 19 de maio, no BioParque).

Uma coletânea idealizada pelo site Musicoteca em homenagem ao quarteto carioca, e que será lançada em abril, mostra como é heterogênea a geração que foi influenciada ou reconhece a relevância do grupo. São 33 artistas nacionais que vão de Velhas Virgens a Bárbara Eugênia. Entre eles, estão os paranaenses A Banda Mais Bonita da Cidade, Banda Gentileza, Jô Nunes, Leo Fressato, Música de Ruiz e Nevilton – alguns dos nomes representativos de uma cena local produtiva, que compartilha alguns dos “valores” que marcam o trabalho dos cariocas.

Estrela Leminski e Téo Ruiz

Estrela Leminski diz que o grupo do Rio de Janeiro marcou uma época de diluição de fronteiras entre gêneros (Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

“O Los Hermanos mexeu em vários pontos-chave”, diz a musicista Estrela Leminski – junto com Téo, integrante do Música de Ruiz, ela gravou uma versão em tango de “A Outra” para a coletânea. “Eles são uma banda que acaba representando a passagem dos grupos de rock mainstream para a cena independente”, explica a compositora, para quem um dos impactos da transição foi o rompimento da “barreira” que existia entre o rock e a música popular brasileira.

Em mais um dos aspectos que correspondem à geração de hoje, a trajetória da banda ajudou a diminuir a importância da separação entre gêneros. “Eu sempre tive dificuldades em me rotular. Sempre estive entre rock, MPB e vários gêneros. A influência que tive deles não é tanto musical, mas no sentido de me colocar como compositora”, diz Estrela. “Eles deram uma lição para os dois lados. Fizeram a MPB considerar o rock, e, ao mesmo tempo, fez o pessoal do rock ortodoxo ver que também poderia se enquadrar como canção, ser cantarolável, ter roupagem sofisticada”, diz a artista, para quem o Los Hermanos fazia “canções com C maiúsculo”.

Por falar em rock, a banda umuaramense Nevilton, atualmente radicada em São Paulo, participa da coletânea com “Fingi na Hora Rir”, ressaltando o lado mais roqueiro da música. “Tem uma pegada bastante animada, mesmo a letra não sendo feliz”, diz o vocalista e guitarrista Nevilton. São das letras de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, os compositores do Los Hermanos, aliás, que Nevilton lembra ao falar sobre sua identificação com a banda. “Foi para que a gente considerasse fazer música em português para gente jovem. Para tirar essa coisa mítica de que o rock tem que ser feito sempre em inglês.”

Liberdade

A postura dos cariocas na condução da carreira após o sucesso do hit “Ana Júlia” foi exemplar na opinião de Rodrigo Lemos, da Banda Mais Bonita da Cidade – e a atitude tem algo a dizer a ele e seus companheiros de grupo, que estouraram nacionalmente com “Oração”, de Leo Fressato. “O maior legado foi o que eles lançaram depois disso. E foi quando conquistaram o público que os acompanha até hoje”, diz Lemos – que gravou com a banda uma versão jazzística de “Dois Barcos” para a coletânea.

A preocupação com a renovação e com um trabalho autoral de qualidade, para Lemos, fez com que o Los Hermanos fosse a próxima grande coisa depois da geração do mangue beat de Chico Science. Mas, passado o momento de inspiração do quarteto carioca, que vive um “hiato” pontuado por algumas apresentações ao vivo desde 2007, a cena já vive outro momento. “A necessidade de criar, de se expressar, ficou natural para os músicos”, diz Lemos, que foi cofundador de uma das bandas mais importantes da cena curitibana nesse aspecto, a Poléxia, que existiu entre 2002 e 2009. “Vejo um pessoal cada vez mais novo com o impulso de sair criando – não copiando, imitando. Compor deixou de ser uma questão ‘existencial’ para os músicos”.

Publicado originalmente na Gazeta do Povo: www.gazetadopovo.com.br/cadernog…

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